Prezados alunos,
Caso tenham interesse de entender visualmente o que é adições de vetores, abram esse link e tentem brincar com os vetores, a página é totalmente em português, basta clicar e brincar.
Página destinada a troca de informações entre o professor e seus diversos alunos. Críticas são bem vindas.
quinta-feira, 14 de maio de 2015
segunda-feira, 13 de abril de 2015
Desafio de Lógica
Em uma sala há três mulheres: Arlete, Bianca e Carolina, que são, não necessariamente nessa ordem, dentista, médica e psicóloga. Somente uma das afirmações abaixo é verdadeira:
- Arlete é dentista
- Bianca não é dentista
- Carolina não é psicóloga
Como se chama a médica?
- Arlete é dentista
- Bianca não é dentista
- Carolina não é psicóloga
Como se chama a médica?
quinta-feira, 26 de março de 2015
domingo, 8 de março de 2015
sábado, 28 de fevereiro de 2015
O Amor é uma Falácia
Eu era frio e
lógico. Sutil, calculista, perspicaz, arguto e astuto - era tudo isso. Tinha um
cérebro poderoso como um dínamo, preciso como uma balança de farmácia,
penetrante como um bisturi. E tinha - imaginem só - dezoito anos.
Não é comum ver
alguém tão jovem com um intelecto tão gigantesco. Tomem, por exemplo, o caso do
meu companheiro de quarto na universidade, Pettey Bellows. Mesma idade, mesma
formação, mas burro como uma porta. Um bom sujeito, compreendam, mas sem nada
lá em cima. Do tipo emocional. Instável, impressionável. Pior do que tudo, dado
a manias. Eu afirmo que a mania é a própria negação da razão. Deixar-se levar
por qualquer nova moda que apareça, entregar a alguma idiotice só porque os
outros a segue, isto, para mim, é o cúmulo da insensatez. Petey, no entanto,
não pensava assim.
Certa tarde,
encontrei-o deitado na cama com tal expressão de sofrimento no rosto que o meu
diagnóstico foi imediato: apendicite.
- Não se mexa. Não
tome laxante. Vou chamar o médico.
- Couro preto -
balbuciou ele.
- Couro preto? -
disse eu, interrompendo a minha corrida.
- Quero uma jaqueta
de couro preto - disse.
Percebi que o seu
problema não era físico, mas mental.
- Por que você quer
uma jaqueta de couro preto?
- Eu devia ter adivinhado
- gritou ele, socando a cabeça - Devia ter adivinhado que eles voltariam com o
Charleston. Como um idiota, gastei todo o meu dinheiro em livros para as aulas
e agora não posso comprar uma jaqueta de couro preto.
- Quer dizer -
perguntei incrédulo - que estão mesmo usando jaquetas de couro preto outra vez?
- Todas as pessoas
importantes da universidade estão. Onde você tem andado?
- Na biblioteca -
respondi, citando um lugar não freqüentado pela pessoas importantes da
Universidade.
Ele saltou da cama
e pôs-se a andar de um lado para o outro do quarto.
- Preciso conseguir
uma jaqueta de couro preto - disse, exaltado - Preciso mesmo.
- Por que, Pety?
Veja a coisa racionalmente. Jaquetas de couro preto são desconfortáveis.
Impedem o movimento dos braços. São pesadas, são feias, são ...
- Você não
compreende - interrompeu ele com impaciência - é o que todos estão usando. Você
não quer andar na moda?
- Não - respondi,
sinceramente.
- Pois eu sim -
declarou ele - daria tudo para ter uma jaqueta de couro preto. Tudo.
Aquele instrumento
de precisão, meu cérebro, começou a funcionar a todo vapor.
- Tudo? -
perguntei, examinando seu rosto com olhos semicerrados.
- Tudo - confirmou
ele, em tom dramático.
Alisei o queixo,
pensativo. Eu, por acaso, sabia onde encontrar uma jaqueta de couro preto. Meu
pai usara um nos seus tempos de estudante; estava agora dentro de um malão, no
sótão da casa. E, também por acaso, Petey tinha algo que eu queria. Não era
dele, exatamente, mas pelo menos ele tinha alguns direitos sobre ela. Refiro-me
à sua namorada, Polly Spy.
Eu há muito
desejava Polly Spy. Apresso-me a esclarecer que o meu desejo não era de
natureza emotiva. A moça, não há dúvida, despertava emoções, mas eu não era
daqueles que se deixam dominar pelo coração. Desejava Polly para fins
engenhosamente calculados e inteiramente cerebrais.
Cursava eu o
primeiro ano de direito. Dali a algum tempo, estaria me iniciando na profissão.
Sabia muito bem a importância que tinha a esposa na vida e na carreira de um
advogado. Os advogados de sucesso, segundo as minhas observações, eram quase
sempre casados com mulheres bonitas, graciosas e inteligentes. Com uma única
exceção, Polly preenchia perfeitamente estes requisitos.
Era bonita. Suas
proporções ainda não eram clássicas, mas eu tinha certeza de que o tempo se
encarregaria de fornecer o que faltava. A estrutura básica estava lá.
Graciosa também
era. Por graciosa quero dizer cheia de graças sociais. Tinha porte ereto, a
naturalidade no andar e a elegância que deixavam transparecer a melhor das
linhagens. Á mesa, suas maneiras eram finíssimas. Eu já vira Polly no barzinho
da escola comendo a especialidade da casa - um sanduíche que continha pedaços
de carne assada, molho, castanhas e repolho - sem nem sequer umedecer os dedos.
Inteligente ela não
era. Na verdade, tendia para o oposto. Mas eu confiava em que, sob a minha
tutela, haveria de tornar-se brilhante. Pelo menos valia a pena tentar. Afinal
de contas, é mais fácil fazer uma moça bonita e burra ficar inteligente do que
uma moça feia e inteligente ficar bonita.
- Petey - perguntei
- você ama Polly Spy?
- Eu acho que ela é
interessante - respondeu - mas não sei se chamaria isso de amor. Por quê?
- Você - continuei
- tem alguma espécie de arranjo formal com ela? Quero dizer, vocês saem
exclusivamente um com o outro?
- Não. Nos vemos
seguidamente. Mas saímos os dois com outros também. Por quê?
- Existe alguém -
perguntei - algum outro homem que ela goste de maneira especial?
- Que eu saiba não.
Por quê?
Fiz que sim com a
cabeça, satisfeito.
- Em outras
palavras, a não ser por você, o campo está livre, é isso?
- Acho que sim.
Aonde você quer chegar?
- Nada, anda -
respondi com inocência, tirando minha mala de dentro do armário.
- Onde é que você
vai? - quis saber Petey.
- Passar o fim de
semana em casa.
Atirei algumas
roupas dentro da mala.
- Escute - disse
Petey, apegando-se com força ao meu braço - em casa, será que você não poderia
pedir dinheiro ao seu pai, e me emprestar para comprar uma jaqueta de couro
preto?
- Posso até fazer
mais do que isso - respondi, piscando o olho misteriosamente. Fechei a mala e
saí.
- Olhe - disse a
Petey, ao voltar na segunda feira de manhã. Abri a mala e mostrei o enorme
objeto cabeludo e fedorento que meu pai usara ao volante de seu Stutz Beacat em
1955.
- Santo Pai -
exclamou Petey com reverência. Passou as mãos na jaqueta e depois no rosto.
- Santo Pai -
repetiu, umas quinze ou vinte vezes.
- Você gostaria de
ficar com ele? - perguntei.
- Sim - gritou ele,
apertando a jaqueta contra o peito. Em seguida, seus olhos assumiram um ar
precavido. - O que quer em troca?
- A sua namorada -
disse eu, não desperdiçando palavras.
- Polly? -
sussurrou Petey, horrorizado. - Você quer a Polly?
- Isso mesmo.
Ele jogou a jaqueta
pra longe.
- Nunca - declarou
resoluto.
Dei de ombros.
- Tudo bem. Se você
não quer andar na moda, o problema é seu.
Sentei-me numa
cadeira e fingi que lia um livro, mas continuei espiando Petey, com o rabo dos
olhos. Era um homem partido em dois. Primeiro olhava para a jaqueta com a
expressão de uma criança desamparada diante da vitrine de uma confeitaria.
Depois dava-lhe as costas e cerrava os dentes, altivo. Depois voltava a olhar
para a jaqueta. Com uma expressão ainda maior de desejo no rosto. Depois
virava-se outra vez, mas agora sem tanta resolução. Sua cabeça ia e vinha, o
desejo ascendendo, a resolução descendendo. Finalmente, não se virou mais:
ficou olhando para a jaqueta com pura lascívia.
- Não é como se eu
estivesse apaixonado por Polly - balbuciou. - Ou mesmo namorando sério, ou
coisa parecida.
- Isso mesmo -
murmurei.
- Afinal, Polly
significa o que para mim, ou eu pra ela?
- Nada - respondi.
- Foi uma coisa
banal. Nos divertimos um pouco. Só isso.
- Experimente a
jaqueta - disse eu.
Ele obedeceu. A
jaqueta ficou bem larga, passando da cintura. Ele parecia um motoqueiro mal
vestido da década de cinqüenta.
- Serve
perfeitamente - disse, contente.
Levantei-me da
cadeira e perguntei, estendendo a mão.
- Negócio feito?
Ele engoliu a seco.
- Feito - disse, e
apertou a minha mão.
Saí com Polly pela
primeira vez na noite seguinte.
O Primeiro programa
teria o caráter de pesquisa preparatória. Eu desejava saber o trabalho que me
esperava para elevar a sua mente ao nível desejado. Levei-a para jantar.
- Puxa, que jantar
interessante! - disse ela, quando saímos do restaurante. Fomos ao cinema.
- Puxa, que filme
interessante! - disse ela, quando saímos do cinema.
Levei-a para casa.
- Puxa, que noite
interessante - disse ela, ao nos despedirmos.
Voltei para o
quarto com o coração pesado. Eu subestimara gravemente as proporções da minha
tarefa. A ignorância daquela moça era aterradora. E não seria o bastante apenas
instruí-la. Era preciso, antes de tudo, ensiná-la a pensar. O empreendimento se
me afigurava gigantesco, e a princípio me vi inclinado a devolvê-la a Petey.
Mas aí comecei a pensar nos seus dotes físicos generosos e na maneira como
entrava numa sala ou segurava uma faca, um garfo, e decidi tentar novamente.
Procedi, como
sempre, sistematicamente. Dei-lhe um curso de Lógica. Acontece que, como
estudante de direito, eu freqüentava na ocasião aulas de Lógica, e portanto
tinha tudo na ponta da língua.
- Polly - disse eu,
quando fui buscá-la para o nosso segundo encontro. - Esta noite vamos até o
parque conversar.
- Ah, que interessante!
- respondeu ela.
Uma coisa deve ser
dita em favor da moça: seria difícil encontrar alguém tão bem disposta para
tudo.
Fomos até o parque,
o local de encontros da universidade, nos sentamos debaixo de uma árvore, e ela
me olhou cheia de expectativa.
- Sobre o que vamos
conversar? - perguntou.
- Sobre Lógica.
Ela pensou durante
alguns segundos e depois sentenciou:
- Interessante!
- A Lógica -
comecei, limpando a garganta - é a ciência do pensamento. Se quisermos pensar
corretamente, é preciso antes saber identificar as falácias mais comuns da
Lógica. É o que vamos abordar hoje.
- Interessante! -
exclamou ela, batendo palmas de alegria.
Fiz uma careta, mas
segui em frente, com coragem.
- Vamos primeiro
examinar uma falácia chamada Dicto Simpliciter.
- Vamos - animou-se
ela, piscando os olhos com animação.
- Dicto
Simpliciter quer dizer um argumento baseado numa generalização não
qualificada. Por exemplo: o exercício é bom, portanto todos devem se exercitar.
- Eu estou de
acordo - disse Polly, fervorosamente. - Quer dizer, o exercício é maravilhoso.
Isto é, desenvolve o corpo e tudo.
- Polly - disse eu,
com ternura - o argumento é uma falácia. Dizer que o exercício é bom é uma
generalização não qualificada. Por exemplo: para quem sofre do coração, o exercício
é ruim. Muitas pessoas têm ordem de seus médicos para não exercitarem. É
preciso qualificar a generalização. Deve-se dizer: o exercício é geralmente
bom, ou é bom para a maioria das pessoas. Do contrário está-se cometendo um Dicto
Simpliciter. Você compreende?
- Não - confessou
ela. - Mas isso é interessante. Quero mais. Quero mais!
- Será melhor se
você parar de puxar a manga da minha camisa - disse eu e, quando ela parou,
continuei:
- Em seguida,
abordaremos uma falácia chamada generalização apressada. Ouça com
atenção: você não sabe falar francês, eu não sei falar francês, Petey Bellows
não sabe falar francês. Devo portanto concluir que ninguém na universidade sabe
falar francês.
- É mesmo? -
espantou-se Polly. - Ninguém?
Contive a minha
impaciência.
- É uma falácia,
Polly. A generalização é feita apressadamente. Não há exemplos suficientes para
justificar a conclusão.
- Você conhece
outras falácias? - perguntou ela, animada. - Isto é até melhor do que dançar.
- Esforcei-me por
conter a onda de desespero que ameaçava me invadir. Não estava conseguindo nada
com aquela moça, absolutamente nada. Mas não sou outra coisa senão persistente.
Continuei.
- A seguir, vem o Post
Hoc. Ouça: Não levemos Bill conosco ao piquenique. Toda vez que ele vai
junto, começa a chover.
- Eu conheço uma
pessoa exatamente assim - exclamou Polly. - Uma moça da minha cidade, Eula
Becker. Nunca falha. Toda vez que ela vai junto a um piquenique...
- Polly -
interrompi, com energia - é uma falácia. Não é Eula Becker que causa a chuva.
Ela não tem nada a ver com a chuva. Você estará incorrendo em Post Hoc,
se puser a culpa na Eula Becker.
- Nunca mais farei
isso - prometeu ela, constrangida. - Você está bravo comigo?
- Não Polly -
suspirei. - Não estou bravo.
- Então conte outra
falácia.
- Muito bem. Vamos
experimentar as premissas contraditórias.
- Vamos - exclamou
ela alegremente.
Franzi a testa, mas
continuei.
- Aí vai um exemplo
de premissas contraditórias. Se Deus pode fazer tudo, pode fazer uma
pedra tão pesada que ele mesmo não conseguirá levantar?
- É claro -
respondeu ela imediatamente.
- Mas se ele pode
fazer tudo, pode levantar a pedra.
- É mesmo - disse
ela, pensativa. - Bem, então eu acho que ele não pode fazer a pedra.
- Mas ele pode
fazer tudo - lembrei-lhe.
Ela coçou a cabeça
linda e vazia.
- Estou confusa -
admitiu.
- É claro que está.
Quando as premissas de um argumento se contradizem, não pode haver argumento.
Se existe uma força irresistível, não pode existir um objeto irremovível.
Compreendeu?
- Conte outra dessas
histórias interessantes - disse Polly, entusiasmada.
Consultei o
relógio.
- Acho melhor parar
por aqui. Levarei você em casa, e lá pensará no que aprendeu hoje. Teremos
outra sessão amanhã.
Deixei-a no
dormitório das moças, onde ela me assegurou que a noitada fora realmente
interessante, e voltei desanimadamente para o meu quarto. Petey roncava sobre
sua cama, com a jaqueta de couro encolhida a seus pés. Por alguns segundos,
pensei em acordá-lo e dizer que ele podia ter Polly de volta. Era evidente que o
meu projeto estava condenado ao fracasso. Ela tinha, simplesmente, uma cabeça à
prova de Lógica.
Mas logo
reconsiderei. Perdera uma noite, por que não perder outra? Quem sabe se em
alguma parte daquela cratera de vulcão adormecido que era a mente de Polly,
algumas brasas ainda estivessem vivas. Talvez, de alguma maneira, eu ainda
conseguisse abaná-las até que flamejasse. As perspectivas não eram das mais
animadoras, mas decidi tentar outra vez.
Sentado sob uma
árvore, na noite seguinte, disse:
- Nossa primeira
falácia desta noite se chama ad misericordiam.
Ela estremeceu de
emoção.
- Ouça com atenção
- comecei - Um homem vai pedir emprego. Quando o patrão pergunta quais as suas
qualificações, o homem responde que tem uma mulher e dois filhos em casa, que a
mulher e aleijada, as crianças não tem o que comer, não tem o que vestir nem o
que calçar, a casa não tem camas, não há carvão no porão e o inverno se
aproxima.
Uma lágrima desceu
por cada uma das faces rosadas de Polly.
- Isso é horrível,
horrível! - soluçou.
- É horrível -
concordei - mas não é um argumento. O homem não respondeu à pergunta do patrão
sobre as suas qualificações. Ao invés disso, tentou despertar a sua compaixão.
Cometeu a falácia de ad misericordiam. Compreendeu?
Dei-lhe um lenço e
fiz o possível para não gritar enquanto ela enxugava os olhos.
- A seguir - disse,
controlando o tom da voz - discutiremos a falsa analogia. Eis um
exemplo: deviam permitir aos estudantes consultar seus livros durante os
exames. Afinal, os cirurgiões levam as radiografias para se guiarem durante uma
operação, os advogados consultam seus papéis durante um julgamento, os
construtores têm plantas que os orientam na construção de uma casa. Por quê,
então, não deixar que os alunos recorram a seus livros durante uma prova?
- Pois olhe - disse
ela entusiasmada - está e a idéia mais interessante que eu já ouvi há muito
tempo.
- Polly - disse eu
com impaciência - o argumento é falacioso. Os cirurgiões, os advogados e os
construtores não estão fazendo teste para ver o que aprenderam, e os estudantes
sim. As situações são completamente diferentes e não se pode fazer analogia
entre elas.
- Continuo achando
a idéia interessante - disse Polly.
- Santo Cristo! -
murmurei, com impaciência.
- A seguir,
tentaremos a hipótese contrária ao fato.
- Essa parece ser
boa - foi a reação de Polly.
- Preste atenção:
se Madame Curie não deixasse, por acaso, uma chapa fotográfica numa gaveta
junto com uma pitada de pechblenda, nós hoje não saberíamos da
existência do rádio.
- É mesmo, é mesmo
- concordou Polly, sacudindo a cabeça. - Você viu o filme? Eu fiquei louca pelo
filme. Aquele Walter Pidgeon é tão bacana! Ele me faz vibrar.
- Se conseguir
esquecer o Sr. Pidgeon por alguns minutos - disse eu, friamente - gostaria de
lembrar que o que eu disse é uma falácia. Madame Curie teria descoberto o rádio
de alguma outra maneira. Talvez outra pessoa o descobrisse. Muita coisa podia
acontecer. Não se pode partir de uma hipótese que não é verdadeira e tirar dela
qualquer conclusão defensável.
- Eles deviam
colocar o Walter Pidgeon em mais filmes - disse Polly - Eu quase não vejo ele
no cinema.
Mais uma tentativa,
decidi. Mas só mais uma. Há um limite para o que podemos suportar.
- A próxima falácia
é chamada de envenenar o poço.
- Que engraçadinho!
- deliciou-se Polly.
- Dois homens vão
começar um debate. O primeiro se levante e diz: ‘o meu oponente é um mentiroso
conhecido. Não é possível acreditar numa só apalavra do que ele disser’. Agora,
Polly, pense bem, o que está errado?
Vi-a enrugar a sua
testa cremosa, concentrando-se. De repente, um brilho de inteligência - o
primeiro que vira - surgiu nos seus olhos.
- Não é justo! -
disse ela com indignação - Não é justo. O primeiro envenenou o poço antes que
os outros pudesse beber dele. Atou as mãos do adversário antes da luta
começar... Polly, estou orgulhoso de você.
- Ora - murmurou
ela, ruborizando de prazer.
- Como vê, minha
querida, não é tão difícil. Só requer concentração. É só pensar, examinar,
avaliar. Venha, vamos repassar tudo o que aprendemos até agora.
- Vamos lá - disse
ela, com um abano distraído da mão.
Animado pela
descoberta de que Polly não era uma cretina total, comecei uma longa e paciente
revisão de tudo o que dissera até ali. Sem parar citei exemplos, apontei
falhas, martelei sem dar trégua. Era como cavar um túnel. A princípio, trabalho
duro e escuridão. Não tinha idéia de quando veria a luz ou mesmo se a veria.
Mas insisti. Dei duro, até que fui recompensado. Descobri uma fresta de luz. E
a fresta foi se alargando até que o sol jorrou para dentro do túnel, clareando
tudo.
Levara cinco noites
de trabalho forçado, mas valera a pena. Eu transformara Polly em uma lógica, e
a ensinara a pensar. Minha tarefa chegara a bom termo. Fizera dela uma mulher
digna de mim. Está apta a ser minha esposa, uma anfitriã perfeita para as
minhas muitas mansões. Uma mãe adequada para os meus filhos privilegiados.
Não se deve deduzir
que eu não sentia amor por ela. Muito pelo contrário. Assim como Pigmaleão
amara a mulher perfeita que moldara para si, eu amava a minha. Decidi
comunicar-lhe os meus sentimentos no nosso encontro seguinte. Chegara a hora de
mudar as nossas relações, de acadêmicas para românticas.
- Polly, disse eu,
na próxima vez que nos sentamos sob a árvore - hoje não falaremos de falácias.
- Puxa! - disse
ela, desapontada.
- Minha querida -
prossegui, favorecendo-a com um sorriso - hoje é a sexta noite que estamos
juntos. Nos demos esplendidamente bem. Não há dúvidas de que formamos um bom
par.
- Generalização
apressada - exclamou ela, alegremente.
- Perdão - disse
eu.
- Generalização
apressada - repetiu ela. - Como é que você pode dizer que formamos um bom
par baseado em apenas cinco encontros?
Dei uma risada,
contente. Aquela criança adorável aprendera bem as suas lições.
- Minha querida - disse
eu, dando um tapinha tolerante na sua mão - cinco encontros são o bastante.
Afinal, não é preciso comer um bolo inteiro para saber se ele é bom ou não.
- Falsa Analogia
- disse Polly prontamente - eu não sou um bolo, sou uma pessoa.
Dei outra risada, já
não tão contente. A criança adorável talvez tivesse aprendido a sua lição bem
demais. Resolvi mudar de tática. Obviamente, o indicado era uma declaração de
amor simples, direta e convincente. Fiz uma pausa, enquanto o meu potente
cérebro selecionava as palavras adequadas. Depois reiniciei.
- Polly, eu te amo.
Você é tudo no mundo pra mim, é a lua e a estrelas e as constelações no
firmamento. For favor, minha querida, diga que será minha namorada, senão a
minha vida não terá mais sentido. Enfraquecerei, recusarei comida, vagarei pelo
mundo aos tropeções, um fantasma de olhos vazios.
Pronto, pensei;
está liquidado o assunto.
- Ad
misericordiam - disse Polly.
Cerrei os dentes.
Eu não era Pigmaleão; era Frankenstein, e o meu monstro me tinha pela garganta.
Lutei desesperadamente contra o pânico que ameaçava invadir-me. Era preciso
manter a calma a qualquer preço.
- Bem, Polly -
disse, forçando um sorriso - não há dúvida que você aprendeu bem as falácias.
- Aprendi mesmo -
respondeu ela, inclinando a cabeça com vigor.
- E quem foi que
ensinou a você, Polly?
- Foi você.
- Isso mesmo. E
portanto você me deve alguma coisa, não é mesmo, minha querida? Se não fosse
por mim, você nunca saberia o que é uma falácia.
- Hipótese
Contrária ao Fato - disse ela sem pestanejar.
Enxuguei o suor do
rosto.
- Polly - insisti,
com voz rouca - você não deve levar tudo ao pé da letra. Estas coisas só têm
valor acadêmico. Você sabe muito bem que o que aprendemos na escola nada tem a
ver com a vida.
- Dicto
Simpliciter - brincou ela, sacudindo o dedo na minha direção.
Foi o bastante.
Levantei-me num salto, berrando como um touro.
- Você vai ou não
vai me namorar?
- Não vou -
respondeu ela.
- Por que não? -
exigi.
- Porque hoje à
tarde eu prometi a Petey Bellows que eu seria a namorada dele.
Quase caí para
trás, fulminado por aquela infâmia. Depois de prometer, depois de fecharmos
negócio, depois de apertar a minha mão!
- Aquele rato! -
gritei, chutando a grama. - Você não pode sair com ele, Polly. É um mentiroso.
Um traidor. Um rato.
- Envenenar o
poço - disse Polly - E pare de gritar. Acho que gritar também deve ser uma
falácia.
Com uma admirável
demonstração de força de vontade, modulei a minha voz.
- Muito bem - disse
- você é uma lógica. Vamos olhar as coisas logicamente. Como pode preferir
Petey Bellows? Olhe para mim: um aluno brilhante, um intelectual formidável, um
homem com futuro assegurado. E veja Petey: um maluco, um boa vida, um sujeito
que nunca saberá se vai comer ou não no dia seguinte. Você pode me dar uma
única razão lógica para namorar Petey Bellows?
- Posso sim -
declarou Polly - Ele tem uma jaqueta de couro preto.
( in Sulman, M. (1973): As calcinhas cor-de-
rosas do Capitão, Porto Alegre: Ed.
Globo)
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